quarta-feira, julho 26, 2006

Crónica do soldado adormecido

No domingo fui jogar “paintball”. Nem mais, essa actividade lúdica onde pagamos para fazer de conta que estamos em guerra. E a guerra, mesmo a brincar, aleija. Ou seja, pagamos para sair de lá aleijados.
Não começou bem o dia, já que ao acordar dei conta da minha condição de soldado adormecido. Portanto, o desporto radical começou logo ao sair de casa, tendo eu realizado o trajecto Fontaínhas-Afurada em menos de (vamos lá ser verosímeis) dois minutos. Mesmo assim não me livrei de, chegado ao cenário de guerra, ver o restante batalhão com aquela cara que todos bem conhecemos de “olha o artista que nos atrasou no conflito armado!”, disfarçando uma certa vontade mitigada de me espancar antes de me alvejarem. Desde já agradeço ao Rémulo e ao Pedro por, enquanto eu não chegava, me terem re-informado do meu atraso, controlado a fúria dos restantes e dado indicações preciosas para chegar são e salvo ao combate. Portanto, relembrando o grande Raul Solnado posso dizer que, graças a eles, “cheguei à guerra, estava a guerra ainda fechada.”
Abertas as hostilidades, digo-vos desde já que não tive tempo de, conforme planeado, levar uma trincha de casa, para os atacar pelas costas, ou um tanque artesanal (nem que fosse de lavar a roupa), para atirar baldes de 5 litros de tinta Robielac (ou Cin, que é ainda mais letal!) destruindo (ou sujando, vá) as posições inimigas... Caso tivesse concretizado essa táctica teríamos dizimado aquele bando de desertores; assim, apenas conseguimos seis vitórias e um empate em sete jogos. Num deles, numa cena de alto realismo, vi o Rémulo a “voar” por cima de mim agarrado a uma boneca que só tinha o tronco, e senti-me como um velho combatente do ultramar, no início dos anos 70, algures na mata da Guiné… Só que a rir-me à brava.
Vamos, pois, à estatística: Feitas as contas, disparei uns tiros, atingi duas vezes o Rui Frias, quase que acertava no Sérgio Pereira, houve pessoal da minha equipa que me tentou "matar" (por engano, dizem eles), arranhei, a bom arranhar, as pernas nas silvas (já que tive a brilhante ideia de ir de calções) e levei um balázio... Um monumental balázio, atirado por alguém que estava atrás de uma árvore e que originou uma pisadura, em forma circular, no meu ombro direito. No entanto, há que informar que houve quem ficasse bem pior e que chegasse ao fim ainda com vontade de fazer um cessar-fogo com o inimigo... Ai deles se o nosso sargento sabe disto.
Bem, mas desta crónica de guerra ressalva-se o facto de eu já me sentir preparado para defender o meu país, nem que seja com bolas de tinta. Isto porque, nunca tendo eu ido à tropa (cheguei a ir lá dar os sinais, mas fiquei com a maioria deles para mim), neste domingo foi o dia em que me senti mais próximo de um combate a sério... Faltaram as madrinhas de guerra, pá!

Tip of the day (conselho do dia): Não tirem a máscara do “paintball” em caso algum, disseram-me isso vezes sem conta, mas estou prestes a quebrar essa regra. Até porque estou sem dormir há três dias uma vez que não arranjo posição para pousar a cabeça na almofada.

Sejam todos amigos e até logo.

3 comentários:

Patapon disse...

Obrigadinho Dr. Pedro... O meu amigo estraga-me com mimos. Volte sempre e vá comentando. Aquele abraço.

Anónimo disse...

Concordo que está brilhante e hilariante, e quero apenas acrescentar que quanto ao célebre voo, foi o meu instinto de kamikaze misturado com o de bom escuteiro. A senhora estava em apuros e, coitada, só tinha tronco...era a única maneira de fugir às balas inimigas...Ah, e o momento valeu só pelos teus olhitos, serginho, quando me vês a sair disparado por cima da vedação :>

Anónimo disse...

Aprendi muito