segunda-feira, janeiro 29, 2007

Última hora... Cairam meia dúzia de flocos de neve em Sobral de Monte Agraço

Por acaso não tenho visto noticiários suecos, ultimamente ando a evitar a televisão escandinava por conselho da minha médica da caixa, mas não me lembro de ter assistido a qualquer serviço informativo alto e louro que puxasse para destaque uma notícia do género: “Notícia que marca a actualidade… Hoje uns raios de sol irromperam numa vila de trazer por casa dos arredores de Estocolmo…”
Serve isto para dizer que Portugal tem dois problemas em termos de notícias, excluindo repórteres disléxicos armados ao pingarelho e insersores de caracteres a raiar o analfabetismo funcional. O primeiro resume-se a três palavras: Falta de assunto. O segundo prende-se a algumas paranóias; e cada país tem as suas… Uma das nossas é a neve.
Quando esses dois males se combinam tornam-se numa ultra-manchete de distinto perfil pacóvio e lá temos de levar com uma notícia que fez furor na abertura dos três principais telejornais da televisão portuguesa neste domingo. Às 20h05 já todos sabíamos que tinham caído uns dez ou vinte flocos de neve em Sobral de Monte Agraço, nos arredores de Lisboa.
Como tudo foi possível? Ainda por cima em Janeiro, num país Europeu, deu-se a estranha ocorrência de ‘chuviscar’ neve. Reparem, não estamos a falar de mantos brancos com cinco metros de profundidade que cortaram as estradas e causam transtorno a muito boa gente. Falamos, pois, de “flocos” ou “farrapos” que vieram do céu em todo o seu esplendor para, antes de chegarem a tocar no chão, marcarem a actualidade nacional. Ou seja, tecnicamente não houve neve.
E aí foi o delírio… Era ver “pés de microfone” perguntarem à canalhinha que passava, certamente de esquis em punho, promovendo diálogos do género:
- Gostaste da neve?
- Gostei (foda-se, qual neve? pensou o miúdo)…

- E o que estás a fazer?
- (longa pausa)

- Brincaste muito?
- Brinquei (esta técnica, das crianças repetirem afirmativamente o verbo da pergunta que lhes é colocada, é mortal. Sem dúvida estamos perante o pior inimigo de um perguntador com areia na cabeça).

Até cheguei a vislumbrar o António Lopes Bogalho, que como todos sabemos é o presidente da Câmara de Sobral de Monte Agraço, a lembrar que também lá nevou há exactamente um ano. E estou certo que mais uma pergunta ou duas e ele avançava com a promessa de mais dois ou três nevões até ao final do seu mandato… Aliás, quanto tempo mais teremos de aguentar para que compromissos deste calibre comecem a fazer parte dos programas eleitorais?
Pena é que nenhuma das referidas reportagens tenha terminado com o sempre jovial José Cid a cantar o tema “Cai Neve em Nova Iorque”, adaptado, claro está, ao pacato município da zona saloia.

Nota: Realmente, Sobral de Monte Agraço é mesmo uma localidade bafejada pela sorte. Depois do detergente Fary ter concebido lá um parque infantil, há uns anos valentes… Desta vez a terra foi contemplada com neve suficiente para fazer meio boneco anão ou uma estância de esqui com 10 centímetros de comprimento. O que virá a seguir? Um feliz premiado no Euromilhões?

2 comentários:

maryposa disse...

loooololololool tás cada vez melhor nas tuas crónicas... o sarcasmo, o irónico a até às vezes a tocar ao de leve, como um floco que n caiu, o humor negro (ou branco pela neve).

Qto aos "pés de microfone", dá desconto. A culpa n é desses pobres mas dos que estão sentaditos nas suas mesitas a ver e revêr a página da lusa em busca de algo que se destaque, ainda que por não se destacar seja um destaque mesmo assim... ou não seria interessante que em pleno Verão os jornais abrissem a dizer que nesse dia, segundo especialistas da nasa, ou segundo aquele apresentador da meteorologia (que é dele por falar nisso? onde param esses?) o sol brilhou com mais intensidade? As perguntas iriam, tipicamente, para os banhistas e veraneantes:

- sentiu muito calor?
-senti...

-mas está a gostar deste Verão?
-estou

e assim anda a informação nacional ;)

*s
Liliana

Patapon disse...

Muito obrigadinho por terem passado por cá para comentar... Só assim se justifica a existência dos blogs: quando há interacção, portanto.
Bjs e abraços :)