Não sei porquê, mas deu-me uma vontade enorme de violar a lei eleitoral. Não é que eu seja grande violador, mas não tenho nada melhor para fazer com os próximos vinte minutos.
6.ª feira, 18h, Estação de Metro da Trindade
Ia eu a passar muito descansadinho, quando fui abordado por um marmanjo que me deu um panfleto anti-aborto. Em vez de aceitar ou recusar, sem mais, decidi recusar, primeiro, e depois perguntar-lhe porque é que ele me estava a entregar aquilo. Estava a chover e, enquanto a chuva não parava, transformei a entrada da estação num “speakers corner” em versão portuguesa. Houve muito boa gente que ficou a ver e tudo, um verdadeiro debate ao vivo… Lindo, meus amigos…
Esclareci logo a minha posição e, às primeiras trocas de argumentos, começaram a chegar reforços, entre os quais se contavam duas betas com uns 16 anos (cheias de certezas sobre a vida), e, a chefe do bando, uma trintona de com ar de beata (permanentemente apagada)…
Passado pouco tempo, todos os “misseiros” que distribuíam panfletos, tinham deixado a sua missão e estavam à minha volta a tentar abortar tudo o que para mim era pensamento lógico e racional, enquanto eu dizia “não me interrompam que eu ainda não acabei”. Todos juntos, e um de cada vez, estiveram ali uns 15 minutinhos a ver como se me davam a volta enquanto eu lhes fazia perguntas do género:
- Qual é a vossa solução para o aborto clandestino se desde o último referendo para cá nada mudou?
- Querem tratar de um caso de saúde pública nos tribunais ou em estabelecimentos de saúde?
- Porque é que tratam as mulheres como atrasadas mentais que não sabem decidir sobre uma questão tão íntima?
- (Virado para uma das betas) Tens a certeza que uma mulher faz um aborto como quem toma um copo de água?
- Que exemplo de direitos civis é a Irlanda, um país onde nem o divórcio era permitido há um par de anos?
- Se um feto é um bebé porque é que não consideram a mulher que aborta uma homicida e a mandam para a cadeia por 25 anos?
- Ah, não concordam que elas vão presas, então porque é que querem manter uma lei que diz isso mesmo? A lei é a brincar?
- Porque é que vocês, mulheres, se regem pelos valores morais da igreja católica, que sempre vos tratou como seres menores em relação aos homens?
- Se não se deve matar um feto, porque é uma vida, então uma mulher violada tem de ter o menino? (Virado para a trintona) Era isso que você faria, certo?
E terminei com um triunfal, “tenham vergonha, não se aproveitem da ignorância dos incautos”, precisamente no exacto momento em que a chuva estava a abrandar.
Feitas as contas impedi que cinco elementos do movimento “Norte Pela Vida” distribuíssem panfletos durante cerca de um quarto de hora. À razão de dez folhetos distribuídos por minuto por cada um, foram 750 os que por minha causa ficaram no saco. Ou seja, se o sim à despenalização ganhar, espero que o Louçã, o Sócrates, etc, pelo menos reconheçam e mencionem nos seus discursos de vitória que eu tive um papel activo, senão mesmo decisivo, no referendo.
Caso contrário, da próxima vez que eu passar na Trindade em vésperas de referendo limito-me a insultá-los e não perco tempo a distraí-los da sua tarefa essencial.
6.ª feira, 18h, Estação de Metro da Trindade
Ia eu a passar muito descansadinho, quando fui abordado por um marmanjo que me deu um panfleto anti-aborto. Em vez de aceitar ou recusar, sem mais, decidi recusar, primeiro, e depois perguntar-lhe porque é que ele me estava a entregar aquilo. Estava a chover e, enquanto a chuva não parava, transformei a entrada da estação num “speakers corner” em versão portuguesa. Houve muito boa gente que ficou a ver e tudo, um verdadeiro debate ao vivo… Lindo, meus amigos…
Esclareci logo a minha posição e, às primeiras trocas de argumentos, começaram a chegar reforços, entre os quais se contavam duas betas com uns 16 anos (cheias de certezas sobre a vida), e, a chefe do bando, uma trintona de com ar de beata (permanentemente apagada)…
Passado pouco tempo, todos os “misseiros” que distribuíam panfletos, tinham deixado a sua missão e estavam à minha volta a tentar abortar tudo o que para mim era pensamento lógico e racional, enquanto eu dizia “não me interrompam que eu ainda não acabei”. Todos juntos, e um de cada vez, estiveram ali uns 15 minutinhos a ver como se me davam a volta enquanto eu lhes fazia perguntas do género:
- Qual é a vossa solução para o aborto clandestino se desde o último referendo para cá nada mudou?
- Querem tratar de um caso de saúde pública nos tribunais ou em estabelecimentos de saúde?
- Porque é que tratam as mulheres como atrasadas mentais que não sabem decidir sobre uma questão tão íntima?
- (Virado para uma das betas) Tens a certeza que uma mulher faz um aborto como quem toma um copo de água?
- Que exemplo de direitos civis é a Irlanda, um país onde nem o divórcio era permitido há um par de anos?
- Se um feto é um bebé porque é que não consideram a mulher que aborta uma homicida e a mandam para a cadeia por 25 anos?
- Ah, não concordam que elas vão presas, então porque é que querem manter uma lei que diz isso mesmo? A lei é a brincar?
- Porque é que vocês, mulheres, se regem pelos valores morais da igreja católica, que sempre vos tratou como seres menores em relação aos homens?
- Se não se deve matar um feto, porque é uma vida, então uma mulher violada tem de ter o menino? (Virado para a trintona) Era isso que você faria, certo?
E terminei com um triunfal, “tenham vergonha, não se aproveitem da ignorância dos incautos”, precisamente no exacto momento em que a chuva estava a abrandar.
Feitas as contas impedi que cinco elementos do movimento “Norte Pela Vida” distribuíssem panfletos durante cerca de um quarto de hora. À razão de dez folhetos distribuídos por minuto por cada um, foram 750 os que por minha causa ficaram no saco. Ou seja, se o sim à despenalização ganhar, espero que o Louçã, o Sócrates, etc, pelo menos reconheçam e mencionem nos seus discursos de vitória que eu tive um papel activo, senão mesmo decisivo, no referendo.
Caso contrário, da próxima vez que eu passar na Trindade em vésperas de referendo limito-me a insultá-los e não perco tempo a distraí-los da sua tarefa essencial.
Até logo... E atenção ao sinal da cruz que vão fazer nas mesas de voto :)